A velhice é mais uma fase da vida, para quem lá chega.
Talvez por implicar perda de autonomia/capacidades, como defesa, de certo
modo, tenta-se “negar”, viver como se não existisse, confiando que uma vez lá,
alguém há de resolver. E também partindo muitas vezes de princípios limitadores
como o “não saio da minha casa”.
O que acontece é que se assiste a filhos que veem a sua vida usurpada por querer
que os seus pais mantenham a vida que tinham quando tinham autonomia.
Assim, sacrificam a sua vida e a das suas famílias para que aquelas pessoas não
“sofram”, assumindo que assim estão a ser bons filhos, cumprindo a sua
obrigação.
Refiro-me a famílias cujos pais foram cuidadores, e os filhos sentem essa
proximidade de reciprocidade, e a idosos que vão perdendo autonomia, mas
ainda estão funcionais em contexto doméstico.
Na velhice volta a ser-se “bebé”, tem de se cuidar 24h, fisicamente debilitam
muito mais rápido, requerem uma assistência médica muito mais frequente, tem
que se cuidar da medicação, ajudar em higienes do próprio, da casa, prover
alimentação, etc…
De facto, os filhos devem apoiar os pais e diligenciar para que estejam bem,
assistidos pela família, e que as necessidades sejam supridas. Mas não têm de ser
eles a fazer tudo isso.
Para os filhos, pensar na hipótese de pôr os pais num lar é sempre angustiante. Os
pais, por sua vez, querem prolongar a estadia em casa, adotando posturas de “não
saio da minha casa e não quero cá ninguém estranho”, o que dificulta todo o
processo.
Há um ponto intermédio que harmoniza estas partes, mas que implicam
cedências e adaptações de todos.
Aceitar que a vida muda, que se está numa nova fase e que todos são importantes
e têm de viver o próprio caminho, é fundamental.
Quando se chega a esta fase, a esmagadora maioria já tem a casa própria paga.
Geralmente, têm mais de 1 quarto em casa.
COHOUSING, com amigos é a solução!
Uma casa com 2 quartos dá para viverem 4 pessoas. 4 reformas pagam 1 pessoa
ou 2 para assegurarem o cuidado diário, alimentação, farmácia, etc. . Os filhos,
sobrinhos, netos asseguram a gestão e os momentos de lazer em família, mas a
rotina deles com as respetivas famílias também se mantém.
Os idosos têm de se abrir a trocar a intimidade total pela parcial, sendo esta
opção exequível e melhor que um lar, onde não há privacidade quase nenhuma.
Os lares ficariam para as pessoas que requerem cuidados especializados 24h
(como por exemplo pessoas acamadas e/ou com limitações motoras severas).
O COHOUSING só tem vantagens.
Está-se em ambiente doméstico, com pessoas que têm coisas em comum
connosco, têm memórias dos mesmos tempos (músicas, locais, modas, etc..), e
está ao alcance de muitas pessoas. Não se tem de esperar que alguém faça uma
obra e que aceite inscrições e eu consiga entrar. Somos nós que na nossa casa
acordamos uma parceria com amigos.
Temos de mudar este “chip mental”, temos de fazer diferente para que os nossos
filhos não passem por esta angústia, a que assisto tantas pessoas passarem:
sacrificarem o bem-estar pessoal, e por vezes profissional, do próprio e das
respetivas famílias para que aquelas pessoas, a quem não podem dar saúde e
vida, não sintam a inevitabilidade da fase em que estão.
Não nos podemos esquecer que o desgaste emocional de um familiar é muito
superior ao de um profissional. Esse desgaste leva à depressão do cuidador que
afeta todo o resto de sistema familiar.
Inclusivamente, os momentos de lazer em família são desfrutados com outra
leveza se todo o processo for conduzido de forma equilibrada e harmoniosa para
todos.
Pensemos nesta possibilidade, ou outras que sejam mais saudáveis, leves e
exequíveis, e demos passos nesse sentido. Não façamos os nossos filhos
passarem pela aflição que muitos estão a passar neste momento.
Pensamentos e modos de atuar mais saudáveis é a melhor herança que lhes
podemos deixar.
O diferente não tem de ser mau. Como somos seres de hábitos, de um modo
geral, inicialmente, resistimos sempre à mudança.
Mas como dizia Fernando Pessoa:
“Primeiro estranha-se, depois entranha-se.”!